Aretê Saúde humana, Ano 3, Vol.3,, Jul/Ago/Set 2015, Série 16/09 p.14
Empreendedorismo na Enfermagem
Empreendedorismo na Enfermagem
Ionara Martins Gouveia[1]
Palavras Chaves: enfermagem, empreendedorismo, profissão
Introdução
Ainda hoje, quando nos
referimos à profissão de Enfermagem, vem-nos a lembrança da precursora da
Enfermagem Moderna, Florence Nightingale, que tem uma forte notoriedade devido
a grande influência que teve na Guerra da Crimeia ocorrida entre os anos de
1854 e 1856. Mas o que poucos sabem, é que houve também na história da
Enfermagem uma figura de extrema importância, a chamada “Florence Negra” (1).
Mary Jane Grant Seacole, uma
Enfermeira negra nascida no ano de 1805 na ilha da Jamaica, e que realizou
grandes feitos dentro da profissão. Porém, devido ao preconceito da época, teve
sua história resgatada somente no ano de 1973 por uma Enfermeira britânica (1).
O que chamou a atenção para
que Mary Seacole fosse citada neste trabalho, é que ela é um grande exemplo de empreendedorismo
dentro da Enfermagem, assunto pelo qual enfatizamos para a realização do trabalho.
De acordo com uma citação de
Melo e Gomes, Mary Seacole era apaixonada por viagens, e com elas tinha o
objetivo de trazer mercadorias para serem vendidas na Jamaica. Mais tarde,
quando por determinação própria foi atuar também na Guerra da Crimeia, iniciou
a construção do Hotel Britânico para abrigar os feridos da guerra. O Hotel
possuía no térreo uma conveniência, onde Mary Seacole vendia produtos a fim de
angariar capital para a compra de suprimentos para os enfermos (1).
Nesse trecho da historia,
pudemos observar que o espírito empreendedor já estava presente em profissionais
daquela época.
A palavra empreendedorismo tem origem antiga,
trata-se do verbo francês entreprendre,
que significa fazer algo ou empreender. Etimologicamente: entre + pendre. Entre
(do latim inter) designa espaço que
vai de um lugar a outro, ação mútua, reciprocidade e interação. Pendre (do
latim prehendere) significa tomar
posse, utilizar, empregar, tomar uma atitude. Trezentos anos depois, o termo
foi absorvido pelo Inglês. Em 1970, o irlandês (que viveu na França) Richard
Cantillon, considerado por muitos o primeiro grande economista teórico, usou entrepreneur para designar uma pessoa
que trabalhava por conta própria e tolerava o risco no intento de promover seu
próprio bem-estar econômico. Outra definição da palavra foi
elaborada no início do século XIX pelo economista francês Jean-Baptiste Say.
Trata-se daquele que “transfere recursos econômicos de um setor de
produtividade mais baixa para um setor de produtividade mais elevada e de maior
rendimento”. O autor faz uma citação em que o Merriam-Webster Dictionary define modernamente o empreendedor como
alguém que organiza, administra e assume os riscos de um negócio ou empreendimento
(2).
O empreendedorismo estimula
a que os indivíduos gerem ensejos de criação, introduzindo inovações na maneira
de administrar, provocando o surgimento de valores adicionais (3).
Frente a estas definições,
percebemos o quanto é importante formar profissionais para serem
empreendedores, principalmente na profissão de Enfermagem, que possui um amplo
campo de atuação. No mesmo sentido, diversos estudos foram realizados com o
intuito de implementar disciplinas concernentes ao assunto e avaliar o perfil
dos graduandos quanto ao empreendedorismo.
Ainda hoje, nota-se que o profissional Enfermeiro tem uma invisibilidade
em meio à sociedade, pois muitos relacionam este profissional como sendo
preparados somente para exercer as práticas de cuidado, e muitos até os
relacionam como sendo “assistentes de médicos” (4).
Devido ao amplo campo de
atuação para os profissionais Enfermeiros, é possível que estes exerçam funções
que não estão totalmente relacionadas às práticas de cuidado, mas é
possibilitado aos Enfermeiros terem uma atuação empreendedora, como a
realização de atividades que promovam serviços e produtos de qualidade para a
melhoria da assistência para as práticas de Enfermagem (5).
Objetivo
Descrever estudos que abordam o
tema empreendedorismo relacionado à Enfermagem.
Metodologia
Foi realizada uma revisão
bibliográfica realizada por alunas de uma Instituição Privada da cidade de São
Paulo, sobre o tema “Empreendedorismo na Enfermagem”.
Um artigo disponível no site
da ABEn Nacional (Associação Brasileira de Enfermagem), tratando da historia de Mary Seacole nos direcionou
para busca descrita a seguir: pesquisamos o conceito de empreendedorismo em dois livros,
a seguir prosseguimos com uma pesquisa de artigos com as palavras-chaves
“Empreendedorismo x Enfermagem”. Utilizamos o sistema de busca disponível na Bireme
(Biblioteca Virtual em Saúde) no banco de dados LILACS (Literatura Latino
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde).
No total, foram pesquisados dez
artigos, dos quais utilizamos nove para a realização do trabalho. As datas de publicação
variam do ano de 2006 ao ano de 2012.
A coleta de dados ocorreu no mês de
abril de 2013, onde fizemos as buscas dos artigos e leitura dos mesmos.
Finalizamos o artigo no mês de junho do mesmo ano.
Resultados
De acordo com as práticas
empreendedoras que foram realizadas por Mary Seacole, pode-se observar o quanto
estas práticas trazem um diferencial para os profissionais.
Nos dias de hoje, onde o mercado de trabalho encontra-se cada vez mais
competitivo, e com isso dificulta muitas vezes a inserção dos profissionais,
uma ótima alternativa é angariar ideias para abrir o próprio negócio, e até
mesmo porque a Enfermagem é uma área de ampla atuação, e com isso tem
proporcionado estas possibilidades.
A maioria dos estudos encontrados
foram realizados com o intento de implementar nos curso de graduação de
Enfermagem disciplinas que abordam este tema, uma vez que os profissionais de
Enfermagem são dotados de competências que vão muito além da prática assistencial
do cuidado.
Em um dos artigos
pesquisados, o autor teve por objetivo apresentar a incubadora de aprendizagem,
uma nova maneira de ensinar e aprender. E com isso é permitido compreender a
realidade no qual o profissional está inserido, desenvolver competências,
habilidades, adquirir novos conhecimentos, ampliar a criatividade e
consequentemente aguçar o espírito empreendedor, incentivando a criação de
oportunidades profissionais (6).
Quatro artigos (7), (8),
(9), (10), fazem referência ao empreendedorismo social, sendo que apenas
o artigo de número 9 retrata o empreendedorismo social fora do âmbito
educacional. Empreendedorismo social é entendido como um paradigma emergente de
um novo modelo de desenvolvimentos em redes e parcerias, com foco na dimensão humana,
social e sustentável (7).
Mesmo com esta necessidade de mercado, de profissionais Enfermeiros
empreendedores, em um estudo realizado com concluintes de graduação de uma
Universidade da cidade de São Paulo, demonstrou que esta tendência se dá em um
número não significativo. Foi aplicado um Teste de Tendência Empreendedora
Geral, contendo 54 questões, e foi aplicado a 41 participantes. Os resultados
demonstraram que 14% apresentam cinco tendências empreendedoras e 12% quatro
tendências empreendedoras; 80% apresentam fraca ou nenhuma tendência
empreendedora; a grande maioria pretende encaminhar sua a profissão em
atividades assistenciais, enquanto nenhum dos estudantes pretende atuar em
atividades administrativas (11).
Outro estudo realizado, com
o propósito de analisar a inserção do ensino empreendedor no Curso de Graduação
em Enfermagem de uma Universidade do estado de Goiás, identificou que o
percentual dos acadêmicos que tiveram o conhecimento em ser empreendedor é
insuficiente, pois 51% do 1º e 2º período, 50% no 7º período e 38% no 8º
período não obtiveram o conhecimento essencial para instituir em ser
empreendedor (12).
Considerações Finais
Este estudo nos fez
compreender a tamanha importância que tem o conhecimento na vida dos
profissionais de Enfermagem, no sentido de busca de novos serviços e fazendo
aflorar o espírito empreendedor que há dentro de cada um.
Mesmo que ainda haja uma
grande deficiência da parte dos profissionais de Enfermagem em práticas
empreendedoras, ou que as implementações de disciplinas concernentes ao assunto
não seja efetiva ainda em algumas Universidades, pudemos observar o interesse
social em que há na formação de um Enfermeiro empreendedor.
Isso porque as competências
da área de Enfermagem proporcionam que esses profissionais vão além das
práticas assistenciais, podendo empreender tanto no âmbito institucional como
também criar suas próprias empresas de modo a favorecer melhorias práticas de
cuidado, através de produtos e de serviços prestados.
Conclusão
De acordo com este estudo,
pudemos observar o grande interesse em que há de se introduzir nas diretrizes
curriculares disciplinas que visem à formação do Enfermeiro como um
profissional empreendedor. Mesmo com este interesse e com o reconhecimento
social tamanho em que isso favorece para as práticas do cuidado de Enfermagem,
ainda há um déficit de graduandos e profissionais já formados com esta
tendência empreendedora.
Referências
1. Melo
EMF, Gomes JB. (RE) DESCOBRINDO MARY SEACOLE. Mato Grosso do Sul: 16º SENPE,
2011. Disponível em: http://www.abeneventos.com.br/16senpe/senpe-trabalhos/files/0084.pdf
2. Angelo
EB. Empreendedor corporativo: a nova postura de quem faz a diferença. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2003.
3. Santos
AM, Santos AA. Empreendedorismo: Teoria e Prática. Santa Catarina: UNIARP,
2011.
4. Kemmer
LF, Silva MJP. A visibilidade do enfermeiro segundo a percepção de
profissionais da comunicação. Rev Latino am-Enfermagem 2007; 15 (2): 191-8.
5. Erdmann
AL, et al. A visibilidade da profissão de enfermeiro: reconhecendo conquistas e
lacunas. Rev Bras Enferm, Brasilia 2009 jul-ago; 62(4): 637-43.
6. Cecagno
D, et al. Incubadora de aprendizagem: uma nova forma de ensino na
Enfermagem/Saúde. Rev Bras Enferm, 2006 nov-dez; 59(6): 808-11.
7. Backes
DS, et al. Promovendo a cidadania por meio do cuidado de enfermagem. Rev Bras
Enferm, Brasília 2009 mai-jun; 62(3): 430-4.
8. Backes
DS, et al. Vivência Teórico-Prática Inovadora no Ensino de Enfermagem. Esc.
Anna Nery (impr.) 2012 jul-set; 16(3): 597-602.
9. Gonçalves
LHT. A complexidade do cuidado na prática cotidiana da enfermagem
gerontogeriátrica. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, 2010; 13(3):
507-518.
10. Backes
DS, Erdmann AL. Formação do enfermeiro pelo olhar do empreendedorismo social.
Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2009 jun; 30(2): 242-8.
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12. Sales
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Universidade Paulista (UNIP) Goiânia-Goiás. Rev Inst Ciênc Saúde, 2008; 26(2):
167-72.