O TRABALHO COMO ÓCIO CRIATIVO:
A Sociologia Do Trabalho de Domênico de Masi
Arthur Bittes Júnior[i]
Andreia
do Nascimento Miranda
Carla
Muller B. Barros
Erika
Cardozo Pereira
Ionara
Martins de Gouveia[ii]
O sociólogo italiano Domenico de Masi, autor de diversos e
revolucionários livros é um dos mais
polêmicos e inovadores pensadores sobre a sociologia do trabalho da era
pós-industrial. O autor defende o “Ócio Criativo"¹ como sendo um meio do trabalhador aproveitar suas horas
livres, ou seja, não só viver para o trabalho, mas também para as outras regalias que a vida oferece, não é ter tempo livre muito
menos estar desempregado.
Por falar em trabalho, a semântica da palavra
é derivada
do verbo trabalhar.
“O significado da palavra trabalho remonta à sua origem
latina: tripalium (três paus) - instrumento utilizado para subjugar os animais
e forçar os escravos a aumentar a produção. O tripalium era, pois, um
instrumento de tortura, algo semelhante à cruz que o rebanho cristão adotou
como objeto-símbolo. Vão-se os objetos, ficam as palavras: por volta do séc.
12, o termo já tinha ingressado nas línguas românicas - traball, traballo e
trabalho (Port.), travail (Fr.), trebajo, trabajo (Esp.), travaglio (It.).
Embora na França rural, até hoje, travail ainda sirva para designar uma
variante do tripalium - uma estrutura de madeira destinada a imobilizar o
cavalo para trocar ferraduras ou efetuar pequenas intervenções cirúrgicas -, em
todas essas línguas o termo entrou como substantivo abstrato, significando "tormento, agonia, sofrimento"”².
Tomando com referência a semântica
da palavra, vê-se que ainda
hoje são poucas as pessoas que veem o trabalho como algo prazeroso, por isso, Masi enfatiza que é preciso trabalhar com prazer e isto ajuda a mente do ser humano para que assim seja, de fato, dono do seu destino.
É preciso
refletir e isso só é possível com o ócio criativo. O sociólogo ainda salienta
que a beleza e o prazer da vida estão principalmente em coisas que fazemos
"sem gastar um tostão": fazer amor, encontrar amigos, folhear uma
enciclopédia, meditar e deixar o tempo correr, sem nenhuma ansiedade.
Em uma entrevista
realizada no programa Roda Viva, na TV cultura3, Masi fala sobre a
vida no trabalho, as relações dentro das empresas e sobre o ócio criativo. Ele
classifica o ócio criativo “como um trabalho desenvolvido por um intelectual
que consegue simultaneamente criar riqueza, conhecimento e bem estar”, o que isso
não tem nenhuma relação com a preguiça ou não fazer nada. Ressalta também que o
ócio criativo não está relacionado com o desemprego, que por sua vez, tem como
causa a falta de analise do trabalho na sua essência.
Na entrevista Masi diz que entre as grandes mudanças que ocorreram no
decorrer dos séculos, o aumento da tecnologia com o avanço das máquinas e dos
equipamentos de comunicação fez com que muitos trabalhadores ficassem
desempregados e afirma que o único meio para solucionar o desemprego é a redução da carga horária diária
ou semanal de trabalho e isto se faz possível considerando que as novas
tecnologias de comunicação e processos permitem racionalização do tempo e do
trabalho. Esta ideia já era defendida por John Maynard Keynes ainda nos anos
1930 do século XX[iii]. Domênico de Masi argumenta que cada
vez mais aumenta o número de trabalhadores, fato que pode ser marcado, por
exemplo, pela inserção cada vez maior das mulheres bem como a de deficientes
físicos no mercado de trabalho, ou seja, cada vez mais aumenta o número de
pessoas que querem trabalhar, mas o trabalho permanece o mesmo. Esta seria
também a causa das limitações para os jovens adentrarem o mundo do trabalho.
Soma-se, o que o autor considera um erro, o aumento da idade mínima para
aposentadoria. Cada vez mais as aberturas de vagas por aposentadoria são mais tardias
e por isso os jovens ficam limitados pela redução das vagas de trabalho. Reafirmando
a ideia de Keynes, diz que nos dias de hoje, não seria necessário, por exemplo,
sairmos de casa para trabalhar, ou seja, em certas situações poderíamos
realizar as atividades profissionais de dentro da nossa casa, mas isso não
acontece porque a população vive como se a tecnologia não existisse. Os
problemas de congestionamento no trânsito poderiam ser drasticamente reduzidos
se as pessoas pudessem trabalhar de suas casas.
Domenico diz que conquistamos a liberdade com o avanço da tecnologia, e
que nem todas as tecnologias são hostis para o ser humano. Dentre as suas ideias,
destacamos a de que as empresas são muito conservadoras, e que é esta a causa
principal da crise na sociedade, pois é um conjunto de paradoxo que toma a
liberdade de julgar a sociedade, e que, além disso, não sabe fazer o correto
uso das tecnologias. Nós vivemos numa era pós-industrial, e algumas práticas
das empresas não são coerentes à realidade de hoje. O modelo de gestão das
empresas é arcaico e continua repetindo com os trabalhadores uma relação de
vigiar e punir e isso,
não permite que o trabalho seja criativo e, sobretudo que os trabalhadores
sintam-se felizes. Consumir a tecnologia de maneira coerente significa
aproveitar o tempo que a agilidade dos processos e até de produção ganhou com a aplicação das tecnologias
para que o trabalhador possa consumir cultura e com a diminuição de horas
trabalho todos vão pode trabalhar
aumentar o tempo livre, buscar mais conhecimento e ser mais feliz. Para
que isso aconteça o modelo de empresa deve ser mudado; a empresa deve se tornar
verdadeiramente democrática.
Não
somente as empresas devem mudar, mas, o modelo de sociedade deve ser mudado
para que todos possam viver melhor e conscientizar-se de seu papel na
construção do bem comum.
Masi afirma que deve haver uma fusão
entre produção e prazer. Se a necessidade é a mãe das invenções, o ócio
é, então, o pai das ideias.
Por fim, o entrevistado evidencia
o modelo brasileiro, como um ótimo modelo a ser copiado, pois se refere ao
Brasil como uma democracia completa, onde as diferenças entre o rico e o pobre
estão diminuindo, e também por haver maior harmonia entre o povo brasileiro,
sem grandes tensões relacionadas a diferenças raciais ou étnicas, e que também
hoje, o acesso à cultura é muito maior. Se até o presente o Brasil copiou
modelos europeus e, sobretudo americanos para administrar suas empresas este é
o tempo em que o Brasil deve criar e oferecer modelos de gestão de empresas e
de sociedade democrático e harmônico
para ser copiado, ensinado para todo o mundo.
Bibliografia:
1-
MASI, Domenico de. O ócio criativo. São Paulo, Sextante, 2001.
2-
Nossa Língua Portuguesa. Significado de
trabalho. Disponível em: http://nossalinguaportuguesa.com.br/dicionario/trabalho/
Acessado em 14 de abril de 2013.
3-
Domênico de Masi. Roda Viva. São Paulo: TV Cultura, 21/01/2013. Programa de TV.
[i] Professor doutor em
Enfermagem. Professor Titular das disciplinas de Desenvolvimento do Ser I e Gestão
de Serviços de Saúde e Empreendedorismo, coordenador do Curso de Enfermagem das
Faculdades Oswaldo Cruz – São Paulo.
[ii] Alunas da 3ª série da Faculdade
de Enfermagem das Faculdades Oswaldo Cruz, cursando a disciplina de Gestão de
Serviços de Saúde e Empreendedorismo.
[iii] John Maynard Keynes - economista
britânico do século XX cuja teoria influenciou a macroeconomia moderna, tanto
na teoria quanto na prática. Sua principal obra foi A
Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda.