Revista Aretê Saúde Humana, Ano 5, Vol.5, Janeiro/Fevereiro/Março, 2017, Série 09/02 p.20
CORAGEM, PRAZER, PODER E BRISA:
histórias de vidas de jovens alcoolistas.
Tatiana Santos[1]
Arthur Bittes Jr[2]
[1] Enfermeira formada pela Faculdade de Enfermagem Oswaldo Cruz
[2] Doutor em Enfermagem. Diretor da Faculdade de Enfermagem Oswaldo Cruz. Professor titular da disciplina Desenvolvimento do Ser I.
Santos, T.; Bittes Jr, Arthur. . Aretê Saúde Humana [Blog]. Coragem,prazer, poder e brisa: histórias de vida de jovens alcoolistas. 2016. Disponível em: http://aretesaudehumana.blogspot.com.br/2017/02/coragem-prazer-poder-e-brisa-historias.html
RESUMO
O presente estudo versa sobre consumo de bebida alcoólica na adolescência
e teve como objetivos Desvendar
causas e condições que levam ao consumo de bebida alcoólica na adolescência por
meio da história de vida contada pelo usuário de bebidas alcoólicas. A
metodologia adotada foi pesquisa de campo, exploratória, de abordagem
qualitativa. O método utilizado
foi a História Oral na modalidade História Oral Temática. A população da
pesquisa foi composta por 05 Adolescentes, os dados foram coletados por meio de
entrevistas semiestruturadas, após autorização do comitê de ética em pesquisa Parecer nº 1.759.834. Nos resultados identificou-se
que os fatores de risco associados à experimentação de bebidas alcoólicas na
adolescência estão relacionados a problemas parentais; influência de amigos;
diversão; curiosidade necessidade de pertencer a determinado grupo; obtenção de
prazer; criar coragem e para alguns, significa um modo de não pensar nos
problemas. Conclui-se que o quanto a influência no âmbito familiar e grupo de
amigos repercutem na vida dos adolescentes para o contato precoce de
bebidas alcoólicas, entrevistas evidenciam que há a necessidade de um trabalho de
intervenção da Enfermagem comunitária em favor dos adolescentes. Os serviços de saúde
devem incorporar estratégias preventivas de identificação de riscos para a
dependência, controle e acompanhamento específicos ao grupo de adolescentes.
Palavras-chaves:
Adolescência. Alcoolismo. Drogas.
8- GLOSSÁRIO
1.
INTRODUÇÃO
Atualmente é muito comum ver adolescentes consumindo
bebidas alcoólicas precocemente de maneira rotineira e em excesso. Dentre
tantos assuntos possíveis a serem abordados optou-se pela escolha do tema,
devido á exposição dos adolescentes na sociedade, em sua busca pela identidade
adulta, passando por um processo turbulento de dúvidas e insegurança muitas das escolhas feitas durante essa fase terão consequências
boas ou ruins. O interesse da autora pelo tema surgiu, devido algumas
situações vivenciadas enquanto alunas com grupos de adolescentes, entre amigos,
nas praças, escolas, e ao observar os comportamentos, conversas do tipo “ontem
eu chapei bebi todas gerando o interesse em aprofundar o conhecimento sobre
este tema consumo de bebida alcoólica na adolescência.
Devido á vulnerabilidade o
uso de drogas lícitas nessa fase esta relacionada com a necessidade de
integração social e esse problema já é possível identificar em bares próximos
as faculdades, escolas, grupos nas praças, festas conhecidas como open bar onde
as bebidas são distribuídas gratuitamente, entre outros ambientes.
No Brasil, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 1990, considera criança a pessoa até 12 anos
de idade incompletos e define a adolescência como a faixa etária de 12 a 18
anos de idade (artigo 2º), e, em casos excepcionais e quando disposto na lei, o
estatuto é aplicável até os 21 anos de idade (artigos 121 e 142).O adolescente pode ter o voto opcional
subentendido para os menores de 18 anos.(EISENSTEIN,2005).
A adolescência é uma fase da vida do ser
humano caracterizada por mudanças biológicas, cognitivas, emocionais e sociais,
constituindo-se em importante momento para a adoção de novas práticas,
comportamentos e ganho de autonomia. É um período marcado pela indecisão,
sinalizando a passagem da infância protegida para a exposição à vida adulta. (VIEIRA, et al,2008).
Nessa etapa, o individuo deixa de viver apenas com a
família e passa a viver em função também de amigos, inserindo-se no grupo
social, como forma de identificação pessoal (ROZIN;ZAGONEL,2012). Diante disso, sofrem influências de
amigos, pois os adolescentes passam a sair mais de casa e convivem com grupos
com os quais se identificam. As transformações dessa fase da vida fazem
com que o adolescente viva intensamente sua sexualidade, manifestando-a muitas
vezes através de práticas sexuais desprotegidas, podendo se tornar um problema
devido à falta de informação, de comunicação entre os familiares, tabus ou
mesmo pelo fato de ter medo de assumi-la. A evolução de suas sensações,
comportamentos e decisões sexuais será influenciada pelas interações que
desenvolve com outros jovens do seu vínculo familiar e social.(CAMARGO;FERRARI,
2009).
São vários os fatores de risco associados ao uso de
drogas lícitas entre adolescentes dentre eles estão os fatores sócio demográficos
como, gênero, idade e classe social. No que se refere á família são citadas a
associação do uso de drogas com envolvimento parental ou familiar e inclusive
são muito comuns, não criação por ambos os pais, baixa percepção de apoio
paterno e materno, amigos que usam drogas, ausência de prática religiosa, e a
menor frequência à prática de esportes, o apelo dos meios de comunicação,
igualmente estimulam o consumo de drogas lícitas, como álcool assim, como a
aceitação social e condescendência familiar para o consumo destas drogas;
estabelecimentos comerciais e a falta de fiscalização adequada para sua venda,
sendo comum a compra por menores de 18 anos e as normas sociais, que aprovam o
hábito de beber socialmente. (CAVALCANTE; ALVES;BARROSO, 2008).
No Brasil, Em 2006, uma pesquisa realizada pela CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas),revelou que,
dos adolescentes entre 12 e 17 anos, 48,3% já beberam alguma vez na vida.
Destes, 14,8% bebem regularmente e 6,7% são dependentes de álcool, revelando que
o álcool é a droga mais utilizada pelo público adolescente (ROZIN; ZAGONEL, 2012).
“A classificação dos
problemas com o álcool pode ser feita segundo padrões de consumo ou segundo
critérios diagnósticos (focados em consequências do consumo). Identificam-se
quatro padrões de consumo: moderado, arriscado, nocivo e binge. Considerando um
sujeito abstrato, o consumo moderado, ou “seguro”, é definido em média como
menos de 14 doses por semana e menos de quatro doses por episódio de consumo
para homens, sendo respectivamente nove e três doses, para mulheres. O consumo
arriscado é aquele que se faz acima desses limites e que tem potencial de
produzir danos. Um padrão reiterado de uso já associado a danos físicos,
mentais ou sociais define o uso nocivo. Por fim, beber em binge significa uso
episódico e em grande quantidade.” (SOUZA, 2012).
“Estudo com a população brasileira já
demonstra que o consumo moderado (ingestão de uma dose/dia para as mulheres e
duas doses/dia para os homens) de álcool associa-se à melhor situação
socioeconômica, nível de escolaridade mais elevado e inserção no mercado de
trabalho.” (CARDOSO; MELO; CÉSAR, 2014).
O consumo excessivo
do álcool pode acarretar diversos prejuízos no âmbito escolar, biológico,
psicológico, social e espiritual de crianças e adolescentes. Além disso,
envolvem-se com maior frequência em situações de violência, agressões,
acidentes no trânsito, dependência química, entre outros. (WANDERKOKEN;
VICENTE; SIQUEIRA, 2011).O uso dessas drogas também podem provocar complicações
agudas ( intoxicação ou overdose) e crônicas, com alterações duradouras ou até
irreversíveis.( ALMEIDA, FILHO et al, 2007).
Frete ao exposto, citamos (MIRANDA et al, 2007) que destacam que o uso e abuso do
álcool pode acarretar no individuo sintomas da síndrome de abstinência do
álcool (SAA), marcado pelo quadro de desconforto físico, com tremores, náuseas,
vômito, ansiedade e alterações psíquicas.
“O alcoolismo nas
ultimas décadas, vem se transformando em grave problema de saúde pública.
Dentre as maiores dificuldades encontradas nos programas de tratamento do
alcoolismo, o alto índice de recaída é um dos principais motivos de falta e
abandono de tratamento.” (FRANÇA; SIQUEIRA, 2011).
Para cuidar desses usuários nos serviços, e por
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), foram criadas as
Estratégias de Diagnóstico e Intervenções Breves (EDIBs), em atenção primária a
ser inseridas na Estratégia Saúde da Família (ESF), como forma de prevenir os
danos causados a saúde pelo uso do álcool e por ser um dos dez problemas
prioritários em saúde no país. (MIRANDA et al, 2007).
Buscando soluções aos problemas referentes à temática apresentada, a
educação mostra-se o método mais eficaz para a prevenção do alcoolismo. É
importante o trabalho de conscientização, vindo tanto dos familiares quanto das
instituições de ensino e profissionais da saúde, pois os adolescentes muitas
das vezes necessitam de um diálogo, ter um companheiro para desabafar seus
momentos de alegrias e de tristezas.
Sendo assim, no presente estudo será abordada a questão
do consumo de álcool na adolescência que é um dos assuntos discutido no mundo e
como um problema de saúde publica, com vistas e ampliar o entendimento acerca
das condições e causas que levam os adolescentes a iniciar o consumo e uso
abusivo de bebida alcoólica.
2.
OBJETIVO
·
Desvendar causas e condições que levam ao
consumo de bebida alcoólica na adolescência por meio da história de vida
contada pelo usuário de bebidas alcoólicas.
3. MÉTODO
Foi realizada uma pesquisa de campo, exploratória, de abordagem
qualitativa. O estudo qualitativo se desenvolve numa
situação natural, é rico em dados descritivos, obtidos no contato direto do
pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto
se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes, tem um plano aberto e
flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada (RIBEIRO,2008).
Dentre as metodologias qualitativas, a história oral apresenta adequação para a
temática do estudo. O relato oral configura-se como a principal técnica para
obtenção de dados qualitativos, e a história oral como um meio para captar as
experiências vividas pelos narradores. Meihy (1998) diz que “como método, a
história oral se ergue segundo alternativas, que privilegiam como atenção
central dos estudos. Como técnica, a história oral é um processo subjacente a
outras metodologias, que admitem como um recurso a mais”.
“A história oral pode
ser empregada em diversas disciplinas das ciências humanas e tem relação
estreita com categorias como biografia, tradição oral, memória, linguagem
falada, métodos qualitativos etc. “Dependendo da orientação do trabalho, pode ser
definida como método de
investigação científica, como fonte de
pesquisa, ou ainda como técnica de
produção e tratamento de depoimentos gravados” (ALBERTI,
2005, p. 17. Grifo do autor).
A história oral apresenta três modalidades: a história oral de vida, a
história oral temática e a tradição oral. A história oral temática apresenta-se
como aquela que vem ao encontro dos objetivos traçados.
ALBERTI (2005), diz que “as entrevistas temáticas são aquelas que versam
prioritariamente sobre a participação do entrevistado no tema escolhido,
enquanto as de história de vida têm como centro de interesse o próprio
individuo na história, incluindo sua trajetória desde a infância até o momento
em que fala, passando pelos diversos acontecimentos e conjunturas que presenciou,
vivenciou ou de que se inteirou.”
3.1 DEFINIÇÃO DA COLÔNIA
Na história oral, a colônia se define pelo tema do trabalho. A colônia
desse estudo é definida como sendo uma Comunidade, situada na região oeste do
município de Barueri – SP pois, todos os sujeitos que têm relação com o momento
histórico pesquisado podem prestar informações.
Esta colônia é
frequentada por muitos adolescentes que de acordo com o contexto que foi
trabalho deste estudo teve perfil para realizações das entrevistas. Estabelecida esta colônia fez-se a formação da rede.
3.2 O Colaborador
O colaborador deve ser alguém representativo, que tenha vivido
experiências, e para a realização desse estudo optou-se por escolher o
representante do grupo membro, que com o decorrer da entrevista vai indicar os
outros integrantes, o que domina-se rede.
Os colaboradores deverão ser maiores de 18 anos, pois tem autonomia para
decidir e conceder a entrevista.
A pergunta norteadora
que será utilizadas para realização da entrevista será:
·
Como e porque você começou a beber bebidas
alcoólicas e com qual idade?
3.3 Ética em Pesquisa
Seguindo as diretrizes e normas que regulamentam pesquisas envolvendo
seres humanos (Conselho
Nacional de Saúde 466/12). O colaborador foi informado sobre os objetivos da
pesquisa, riscos e benefício, a ausência de qualquer remuneração por sua
participação, e quanto a preservação de sua identidade se assim desejar.
Foi entregue o Termo de consentimento livre e esclarecido, e a carta de
cessão, esta carta reza sobre autorização para a gravação da entrevista, sua
transcrição, audição e uso na pesquisa.
O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa na Plataforma Brasil,
conforme definido na resolução CNS 466/12 e autorizado pelo Parecer nº 1.759.834.
3.4 Entrevista em História Oral
O método da história oral é formado por diversos componentes onde a
entrevista é uma das fases principais, seguindo algumas etapas: pré-entrevista,
entrevista e pós-entrevista.
Na pré-entrevista é o momento que o autor se prepara para entrar em
contato com o colaborador, são as primeiras, aproximações, no qual irão manter
o diálogo reunindo as principais ideias, realizando anotações e esclarecendo as
informações necessárias diante do objetivo proposto.
Na entrevista é o momento em que o colaborador narra a sua história,
abordando situações pessoais, sentimentos e sonhos. Bittes Jr (2003), diz que "entrevista em história oral não difere,
em estruturas de outras metodologias, assemelhando muito a entrevistas semi estruturadas.
A participação do entrevistador é a mínima possível, devendo este apontar o
tema e fazer as intervenções para elucidar detalhes, que ampliarão a
compreensão do que é narrado". O autor ainda destaca que o colaborador é
quem conduz a narrativa não cabendo ao pesquisador desconsiderar nenhum aspecto
da narrativa, dado que todas as informações fazem parte do todo da memória e
entendimento do narrador a respeito de sua história de vida e como viveu e
introjetou essa vivência.
Por fim, tem-se a pós-entrevista mantém- se o contato com o entrevistado.
Após a realização da entrevista, busca-se
compreender as etapas: transcrição, textualização e transcriação, que são
componentes complementares para a evolução do trabalho proposto.
O Processo de
TRANSCRIÇÃO ocorre após a entrevista, o autor tem que descrever no papel tudo o
que foi relatado pelo colaborador durante a gravação oral, sem interferências
mantendo fala original. (LIMA; GUALDA, 2001).
Ainda segundo os
autores citados acima, na TEXTUALIZAÇÃO o pesquisador irá reorganizar o texto
tornando de forma mais clara, porém retira-se as falas do entrevistador e deixa
fluir colaborador. Neste momento, uma palavra chave chamada “tom vital” é extraída
da entrevista (MEIHY; HOLANDA, 2014).
De acordo com os
autores, Tom Vital é:
“Um recurso usado
para requalificar a entrevista segundo a sua essência. Porque se parte de um
princípio que cada fala tem um sentido geral mais importante, é tarefa de quem estabelece
o texto entender o significado dessa mensagem e reordenar a entrevista segundo
esse eixo. É o tom vital que diz o que pode e o que não pode ser eliminado do
texto.” (MEIHY; HOLANDA, 2014).
A última etapa é a
TRANSCRIAÇÃO quando se procura recriar o contexto da entrevista
no documento escrito fazendo todos os ajustes necessários, momento que o
autor produz um texto de forma coerente, para que o leitor possa fazer leitura
satisfatória. (LIMA; GUALDA, 2001).
NA CONFERÊNCIA os processos já foram finalizados e o colaborador recebe
texto final para uma realização da leitura validando as informações da
narrativa. Somente depois poderão ser divulgadas.
3.5 REALIZAÇÃO
DAS ENTREVISTAS
A identidade verdadeira dos colaboradores não
foi revelada, com isso, utilizei nomes de marcas de bebidas alcoólicas e
personagem de desenho. De início, entrei em contato com o colaborador Whisky,
contato esse pessoal. Expus todo o trabalho, falei dos objetivos e ele
demonstrou interesse em participar. Nesse mesmo dia marcamos um local para a
realização da entrevista. A entrevista foi realizada na própria residência do
colaborador durou aproximadamente uma hora.
Posteriormente, entrei em contato
com os outros colaboradores e expus brevemente o objetivo do trabalho, no qual marcamos
as entrevistas em suas residências, sendo que cada uma teve duração de
aproximadamente uma hora e meia.
O estudo atendeu todos os
fundamentos éticos e científicos pertinentes, conforme diz na resolução nº 466
de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde, que considera o
respeito pela dignidade humana e pela especial proteção devida aos
participantes das pesquisas científicas envolvendo seres humanos (CNS, 2012).
As entrevistas aconteceram somente
após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com parecer consubstanciado nº 1.759.834, bem como após as
colaboradoras assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice
I). A Carta de Cessão (Apêndice II) foi apresentada para os colaboradores após
terem autorizado para o uso no estudo.
Os locais para as gravações foram adequados e
as entrevistas foram individuais e sem nenhum fator que pudesse comprometer a
qualidade das mesmas.
Alberti (2005) diz que o local da realização
da entrevista tem que contribuir para que o objetivo seja alcançado, e que de
forma alguma venha a comprometer a qualidade das relações estabelecidas.
Houve a necessidade de realizar algumas
questões aleatórias durante as entrevistas para esclarecer alguns termos com clareza.
4.
ENTREVISTAS TRANSCRIADAS
ENTREVISTA 1
TOM VITAL :
“Comecei a beber nem sei por que..., tem essa onda da ostentação e nós bebemos
Whisky!”
Eu me chamo Whisyk, tenho 21 anos, não terminei os
estudos e estou desempregado. Moro com minha tia (risos), porque prefiro. É
melhor que morar com meu pai, ele é evangélico e tem outra família. Minha mãe
mora com meu padrasto, eu não concordo com o acontece pois, tem muita briga,
ele bebe, então prefiro ficar “suave” [1]com
minha tia, pelo menos aqui ela me dá uma atenção e as vezes vou a igreja com
ela.
Comecei
a beber nem sei por que (risos). Eu ia para as festas e ficava olhando os “parças”[2]
bebendo, e nessa questão eu tive a curiosidade de experimentar e só gostava de
beber bebida boa. Comecei a
beber com uns 14 anos, e também além de beber bebidas boas, tem essa onda da ostentação e nós bebemos whisky. Eu saio
com meus amigos, e tem várias “minas.
A gente se diverte”.
Sabemos
que aqui na comunidade tem bastante droga, o pessoal usa, só que eu mesmo só
uso o “narguile”, maconha de
vez quando eu uso, porque dá uma sensação de paz, aquela tontura, mas o
complicado é quando vem a fome a
barriga fica um pouco dura e doendo. Nós vamos pra casa de um amigo e
fazemos o consumo do fumo, porque na vizinhança é um pouco complicado (risos),
e a bebida a gente bebe na rua mesmo durante as madrugadas, porque é nesse
horário que a “brisa”[3]
é da hora, não tem ninguém na rua e os “zé
porvinho[4]”
estão dormindo. A mente fica a milhão vem várias ideias de alucinações, mas é
legal, eu gosto me sinto bem, principalmente se tiver com problemas e sem dinheiro. Ajuda a tranqüilizar
(risos).
Gosto
de ir aos bailes principalmente aos finais de semana, andar de moto, carro,
tudo novo é da hora, parece que
estamos no poder. Aqui na “quebrada[5]”
é sempre bom, tem uns bailes na comunidade, mas prefiro curtir fora porque pelo
menos eu bebo,fumo,faço minhas aventuras longe da quebrada, os “vermes[6]”
as vezes aparecem mas, a gente se aventura fazendo a fuga, ou damos algo em
troca pra eles.
Além
dessas situações a gente acaba se envolvendo com outras coisas erradas, em
decorrência das amizades e com isso surgem algumas prioridades para nós e nesse
mundo nada é fácil né? Nós vamos aderindo ao sistema , adquirindo algumas experiências
mas, não coisas muito longas, porque começamos a nos envolver com coisas
pequenas e quando percebemos já estamos lá dentro do presídio, ai você vê sua
mãe e seu pai ali te apoiando, você não tem como ter uma mentalidade de tentar
continuar, mas têm alguns que continuam e ai o caminho é trágico acabam
morrendo .
Eu,
vivi essa situação, teve uma época que eu só traficava, era uma forma fácil e
rápida de ganhar dinheiro (risos), só andava “chavoso[7]”,
cheguei até tentar assaltar uma loja, mas levei um tiro no pé de raspão; foi
muita correria, ai percebi que pra essa vida de assalto não sirvo. Eram altas
madrugadas bebendo e fumando pra ficar acordado, e tirar a grana. Tinha que vender os baseados,
até que virei gerente de uma “biqueira”,
eu só recebia o dinheiro. Mano (risos)
eu era terrível, desafiava mesmo não estava nem ai. Os “vermes” ficavam doidos, e minha
família em casa preocupada comigo, até que um dia fui pego em flagrante. Os
policiais me pediram dinheiro para me liberar eu não tinha, ainda era menor de
idade então eles me levaram para Febem onde fiquei uns meses, no início foi um
sofrimento mas depois fui me recuperando, também sai logo graças a Deus.
Também
nessa questão a experiência é boa porque levamos como aprendizado para o resto
da vida, mas hoje em dia eu vejo que tudo isso é ilusão, hoje estou tranquilo,
as vezes quando vou à igreja dá uma paz, curto com minha família, independente
da religião porque cada um tem sua fé.
Temos
que aproveitar cada momento da nossa vida, mais tudo com consciência para não
fazer mal a ninguém. Quem bem tiver consciência não acaba com sua vida nesse
mundo, onde as drogas e bebidas estão prontas pra te derrubar porque no inicio
é gostoso e prazeroso, mais depois só vem a ressaca e mal estar.(silêncio)
ENTREVISTA
2
TOM
VITAL “Eu bebo porque eu gosto de curtir, me divertir, sair com os amigos,
“pegar as meninas”
Eu me
chamo Vodka, tenho 19 anos, moro com minha mãe e meu padrasto. Na verdade, moro
sozinho porque minha mãe construiu um cômodo pra mim atrás de sua casa. Isso
porque ela não me quer em sua casa devido a alguns acontecimentos... Por isso,
só vou a casa dela pra buscar comida e tomar banho,“de boas”. É até melhor, porque tenho minha liberdade e levo quem
eu quiser em minha casa. Eu parei os estudos na 8ª serie do ensino médio, não
trabalho, sou solteiro e tenho umas “novinhas.”
Você
sabe eu sou MC, então não paro em casa, fico o tempo todo na rua,
principalmente nas madrugadas dos finais de semana. Ai, recebo convites pra
cantar. Durante semana durmo o dia inteiro ou fico na rua com os moleques
fazendo algum “corre[8]”.
Na verdade, as vezes, sem querer, eu pegava algum dinheiro da minha mãe que
vende geladinho, pra eu comprar alguma coisa tipo bebida ou maconha (risos).
Eu
comecei a consumir bebida alcoólica aos 13 anos e como não sei. Eu bebo porque
eu gosto de curtir, me divertir, sair com os amigos, “pegar as meninas”... Bebo porque eu gosto, e para cantar, sou MC
canto umas musicas, então quando eu bebo dá uma alegria fico na “nave[9]”,
suave”, dá tranquilidade,
felicidade, ainda me ajuda a esquecer de alguns problemas. Eu também consigo
fazer umas letras novas é “da hora”,
começo pensar melhor, tanto que na maioria das vezes que eu vou compor as
musicas, eu sempre estou bebendo e claro uso uma maconha pra ajudar a “brisa”,(risos).
É
difícil falar, só quem bebe sente essa sensação. Só quem passa pelos problemas
que entende o que eu estou falando. Como eu sou MC também preciso mostrar para meus fãs que eu tenho disposição,
que estamos sempre juntos independente de qualquer “fita[10]”
e sempre andar no “estilo”
com as bebidas “monstra”[11];
um saquinho de “back[12]”
pra mostrar que nós somos patrão
e onde nós chegamos roubamos a cena das meninas e dos amigos, tem pra todo
mundo!
Quando
tem baile aqui, nossa a rua fecha os moradores mesmo nem entram (risos), só se
vê a fumaça subindo o funk “estralando”,
as meninas rebolando, as bebidas caindo de graça parecendo que vêm do céu, dá
até pra tomar banho! Vou chamar você pra qualquer dia cola aqui e “pegar a visão” (risos).
Independente
de qualquer situação, a gente infelizmente tem que acompanhar esse mundão que
vivemos, cada um tem sua realidade, cada um sabe o que vive, está entendendo?
Eu por exemplo, não fui criado pelo meu pai, ele abandonou minha mãe quando
descobriu que ela estava grávida. Meu pai é o pior exemplo que tenho. Hoje ele
está na cadeira de rodas porque levou um tiro, ele nem morava aqui, era da
Bahia, e agora veio pra cá para fazer os “corre” dele, cobrar quem estava devendo para ele, porque ele é
agiota. Isso dá dinheiro, mas são vários que morrem, é estranho ele aqui
comanda lá na Bahia e eu não quero isso pra mim. Não quero ficar fazendo
maldade para os outros, igual a ele que manda matar vários. O “negocio é estreito”, ele bebe também,
mas tudo que ele faz ou manda fazer é consciente, ele anda com uma arma debaixo
das pernas, fora que eu sei que quando minha mãe morava com ele, ele batia nela
(silêncio). Então é complicado, às vezes minha mãe me manda para casa dele em
São Paulo só porque não quero trabalhar ou quando têm os bailes aqui, e ai os
invejosos vêm me ameaçar. Mas, eu não apoio o que ele faz, porém todo mundo sabe
que se mexer comigo o negócio vai “pegar
fogo”, “vai ficar sinistro.”
Eu acho
que cada um tem que fazer seu “corre”,
e ficar de boa, eu bebo, uso minha maconha e fico “suave” só criando as musicas na minha mente, e olha que eu nem
escrevo as letras, para você vê como a “brisa”,
a sensação de leveza, é boa. Os vizinhos ficam conspirando, mas eu não estou
nem ai, vivo falando pra minha mãe que cada um tem que cuidar da sua vida, e
ela tem que parar de ouvir os outros da rua.
ENTREVISTA 3
TOM VITAL 3“Eu tinha muitos problemas desde novo, meus
pais se separam, nunca tive uma infância fácil, tenho 7 irmãos e em casa sempre
faltava comida.”
Eu me
chamo, Corote, tenho 25 anos, moro com meu pai em um galpão, tenho uma filha de
06 anos e ela mora com a mãe no Rio de Janeiro, estou desempregado e não
terminei os estudos porque preferi a malandragem.
Comecei
a beber aos 12 anos de idade, gosto de todos os tipos de bebidas alcoólicas. Eu
tinha muitos problemas desde novo, meus pais se separaram, nunca tive uma
infância fácil, tenho 7 irmãos e em casa sempre faltava comida, meu pai sempre
bebendo e discutindo com minha mãe. Eu também fui pai cedo e a mulher ficava
falando muito no meu ouvido porque não tinha como sustentar a criança só eu que
trabalhava em casa. Quando eu tinha 14 anos comecei a experimentar outras
drogas como maconha e cheirar pó de cocaína, no inicio foi só uma forma pra eu
fugir dos problemas, mas depois virou rotina e curtição eu e meus amigos
saiamos direto, nós pinchávamos as ruas e prédios era a nossa diversão da
madrugada, as vezes na “brisa fazíamos
alguns assaltos para levantar um dinheiro”, trabalhava traficando nessa
vida louca. Gosto muito mesmo de fumar minha maconha, todos os dias eu uso e
não nego pra ninguém porque “meu o
bagulho é da hora demais” (risos).
Hoje eu
estou acabado, nem sei explicar minha situação, a idade está passando “ta ligada?”, e o que me deixa mais
frustrado é que minha filha está longe e eu nem posso dar um abraço nela. Eu
não tenha nada, minha mãe morava aqui perto de casa mas já faz 6 meses que ela viajou para Minas Gerais e
vai morar lá com minha avó porque recentemente ela perdeu o marido, estava doente
com câncer na garganta. Por um lado dei graças a Deus (risos), ele dava muito
trabalho ficava na cama e minha mãe presa em casa, se é louco?.
Continuo
fazendo meus consumos, o álcool e as drogas é a única forma de me distrair
entendeu? Aqui não tem lazer nenhum, vou nos baile quando tem ou a gente bebe
aqui no galpão, é gostoso. Meu “pai
também está na sofrência não arruma ninguém e nem trabalho”, a gente
sobrevivi porque do meu tio que é vereador e arrumou esse galpão para gente
morar.
Mano,
minha filha está longe, a mãe dela casou com outro, mas essa situação vai ser
cobrada estou só aguardando a hora certa, eu vou lá de vez quando no RJ, falei
pra aquela vagabunda não tirar minha filha de mim, mas ela não me ouviu
(silêncio).
Essa
vida eu não desejo pra ninguém, não é fácil mano, eu só durmo o dia inteiro, não tenho como arrumar emprego, no
momento estou me relacionando com outra menina, porque nessa vida a gente não
veio ao mundo pra sofrer, fico muito triste é revoltante, perdi minha casa
porque minha mãe vendeu, está tudo atrasando meu lado, tenho vários parcas mas não adianta ter tanta
amizade na hora de curtir e depois ficar sozinho ( silêncio).
Foi bom
até você vir aqui porque pelo menos me distrai conversar com alguém estudada ta
ligado? Você nem tirou minha brisa,
foi um papo da hora, refleti meu passado e vê minha situação hoje.
ENTREVISTA 4
TOM VITAL 4 “Resolvi
começar a beber para aliviar o cansaço, quando eu bebia me sentia muito bem,
durante a noite dormia bastante.”
Me
chamo, Velho Barreiro tenho 26 anos, moro com minha mãe, meu pai abandonou a
mim e aos meus irmãos desde da infância, trabalho as vezes quando aparece
serviços pra fazer, não terminei os estudos porque tive que seguir o exercito e
infelizmente não dava tempo eu ir para as aulas, tenho uma filha linda que mora
com a mãe.
Comecei
a beber aos 16 anos de idade, o motivo é porque na época eu trabalhava e
estudava e não dava conta de assumir as responsabilidades, me sentia muito
cansado, exausto não tinha força para fazer nada, a escola era longe eu andava
30 minutos, todos os dias e quando eu ia trabalhar o tempo de percurso era o
mesmo porque eu ia para estação de trem a pé. Foi quando eu resolvi começar a beber para aliviar o
cansaço, eu bebia e me sentia muito bem, durante a noite dormia
bastante, era um sono tão gostoso, meu corpo relaxava e aliviava o estresse,
era a solução que eu precisava.
Nessa
fase foi a pior de todas, eu tive que assumir a responsabilidade de pai,
separei da mulher e cada vez mais se tornava complicado porque ela começou a
exigir pensão, eu não estava preparado para tantas cobranças. Minha vida sempre
foi fácil, sempre tive tudo que queria, porém o pior estava por vir, foi quando
eu infelizmente fiquei desempregado e ela por não entender a situação, procurou
a justiça para recorrer aos direitos dela e da filha, conforme a decisão
judicial eu fui preso por não pagar a pensão, fiquei 1 mês e 12 dias preso,
tirei dinheiro de onde não tinha para pagar a minha liberação e advogado,
graças a Deus minha família sempre foi unida e me ajudou.
Hoje em
dia minha rotina não mudou muito, continuo
bebendo, todos os finais de semana parece que já virou lei (risos).
Minha mãe não gosta e com razão eu bebo até passar mal, no outro dia tenho
muita ressaca e vômito. Tentei parar, mas está difícil. Os amigos direto me
chamam e olha que eu nem pago as bebidas no bar, sempre tem alguém que paga pra
mim, aí eu não agüento e não tem como
resistir (risos).
Eu
ainda brinco com minha tia, ela é técnica de Enfermagem, eu sempre falo pra ela
quando chegar algum bêbado no hospital pra ela dar bastante atenção e cuidar
direitinho porque os coitados não tem culpa, a bebida pega a gente de uma forma
que quando percebemos já estamos caindo (risos), mas tranquilo.
ENTREVISTA 5
TOM VITAL 5“Lembro que quando eu bebia, chegava nele e
trocava várias ideias, já roubei beijo dele, fomos até o ponto finalmente, mas
isso só acontecia quando eu estava chapada.”
Oi Boa
Noite! Meu nome é Florzinha, eu tenho 20 anos, solteira e tenho 1 filha de 2
anos. Atualmente moro com meus pais.
Gosto
muito de aproveitar cada momento da minha vida, sou nova e tenho que aprender
com a lei da vida, já curti muitas festas, baladas, tive bastante namorados,
mas enfim hoje eu só trabalho, preciso sustentar minha filha e oferecer para
ela as oportunidades que eu não tive. O pai da criança é um pouco ausente, já
se casou novamente e não temos muito contato. Às vezes dá uma vontade de voltar
no tempo, mudar algumas coisas, fazer diferente...Mas, está tranquilo, tudo é
aprendizado e experiência.
Comecei
a consumir bebidas alcoólicas aos 15 anos, eu amava um garoto na adolescência e
não era correspondida da mesma forma, então eu bebia para me conformar ou me
aproximar dele, por que ele também gosta muito de beber, ir para as festas
então era uma forma de ter contato com ele, tendo as mesmas atitudes. Lembro
que quando eu bebia, chegava nele e trocava varias ideias, já roubei beijo
dele, fomos até o ponto finalmente, mas isso só acontecia quando eu estava “chapada[13]” era uma forma de desabafar o meu amor por
ele. Infelizmente não deu certo, ele só queria me usar, pegava várias novinhas no baile, quando eu percebi
já era tarde. Afastei-me dele, mais continuei bebendo cada vez mais. Era para
sofrer e ao mesmo tempo relembrar os bons momentos, até brinco dizendo: Foi nessa de copo sempre cheio e coração
vazio que eu virei alcoólatra (risos).
Hoje em
dia vou levando a vida, sempre digo que bebi por influência de um amor, gosto e
não devo parar de beber nem tão cedo, ainda tem a parte do cigarro que quando
estou loucona também fumo, mas só para relaxar e flutuar na brisa.
Finais
de semana eu saio, deixo minha filha com minha mãe quando ela pode, ou pago pra
alguém cuidar enquanto fico fora. Já virou rotina, e o mais engraçado é que até
hoje eu vejo esse garoto da adolescência e sinto algo por ele, isso que é “foda”. O cara me fez sofrer, me
iludiu e eu como trouxa. Conheci outros jovens, mas não é a mesma pegada, brisa, aquele jeito de falar na
gíria que só ele sabe. Como faz falta!
Sou
feliz na medida do possível, tenho saúde, disposição, família, minha filha,
então não posso só reclamar (risos). Só que no passado fui idiota, minha mãe
aconselhava, mas eu achava que era papo de coroa e nem dava atenção, às vezes
discutia com ela, uma vez até saímos na “porrada”
por causa dele e do uso da bebida. Melhorei bastante meu comportamento,
agora só preciso controlar as bebidas.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram realizadas 5 entrevistas de
história oral, sendo 4 colaboradores do gênero masculino e 1 gênero feminino,
todos possuem ensino médio incompleto.
Diante das entrevistas coletadas, foi
possível perceber que os colaboradores começaram o consumo de bebidas
alcoólicas antes dos 18 anos de idade. O
que mais chama atenção é que na maioria dos relatos os fatores de risco
associados à experimentação de bebidas alcoólicas na adolescência estão
relacionados a problemas parentais; influência de amigos; diversão; curiosidade
necessidade de pertencer a determinado grupo; obtenção de prazer; criar coragem
e para alguns, significa um modo de não pensar nos problemas.
Outros os motivos também considerados para o
uso continuo do álcool e drogas foram encontrados:
Fuga nas situações de conflito: O uso
continuo do álcool foi utilizada como estratégia, conforme os relatos a seguir:
"Moro
com minha tia (risos), porque prefiro. É melhor que morar com meu pai, ele é
evangélico e tem outra família. Minha mãe mora com meu padrasto,eu não concordo
com o acontece pois, tem muita briga, ele bebe, então prefiro ficar “suave” com
minha tia." (Whisky)
"Eu por exemplo, não fui criado pelo meu
pai, ele abandonou minha mãe quando descobriu que ela estava grávida. Meu pai é
o pior exemplo que tenho." (Vodka)
"Eu
tinha muitos problemas desde novo, meus pais se separaram, nunca tive uma
infância fácil, tenho 7 irmãos e em casa sempre faltava comida, meu pai sempre
bebendo e discutindo com minha mãe." (Corote)
"Meu
pai abandonou a mim e aos meus irmãos desde a infância, trabalho às vezes
quando aparecem serviços pra fazer." (Velho Barreiro)
Atos infracionais: Para os sujeitos a relação
estabelecida com o álcool, favoreceu a situações de atos infracionais como:
tráfico de drogas e roubo.
"
teve uma época que eu só traficava, era uma forma fácil e rápida de ganhar
dinheiro (risos), só andava “chavoso”, cheguei até tentar assaltar uma loja,
mas levei um tiro no pé de raspão". (Whisk)
"as
vezes na “brisa fazíamos alguns assaltos para levantar um dinheiro”,
trabalhava traficando nessa vida louca" (Corote)
Dentre os lugares onde os adolescentes
consumiram bebidas alcoólicas pela primeira vez, houve predominância do consumo
na própria residência; em festas de rua como bailes e na casa de amigos.
Nessa fase, o adolescente busca novas
identidades o conceito de interação grupal é perceptível, e o adolescente busca
pertencer a um grupo com o qual se identifica. Este terá a capacidade de
influenciar suas ações e fará com que adote atitudes as quais serão a prova de
sua aceitação na “tribo”. (CAVALCANTE; ALVES;BARROSO, 2008)
A preferência pelo consumo de álcool por
adolescentes ocorre pelos efeitos da substância, e a curiosidade natural do
adolescente influencia na experimentação dessas substâncias psicoativas, que no
início proporciona sensação de bem-estar, satisfação, estimulante de desafios;
busca de novas emoções; fácil inserção no grupo com os amigos, serve como fonte
de alívio de estresse em relação aos fatores familiares, escolares, e confirmar
sua personalidade e seu espaço no mundo (ROZIN;ZAGONEL,2012)
“Nesta perspectiva,
a família tem uma grande importância para a formação de um código de valores
próprios do adolescente, pois no seu núcleo são transmitidas as primeiras
regras de valores que vão guiá-los no seu convívio social, formando a base
emocional para o desenvolvimento deste. Assim, famílias que fazem uso de drogas
como o álcool e o cigarro colocam em risco o sentimento de segurança e proteção
da criança e comprometem seus códigos de moral, pois os membros adultos
constituem modelos para os adolescentes.” (ZEITOUNE, et al,2012).
A família e a
escola são fundamentais para o desenvolvimento na trajetória de vida do
adolescente, sendo importante na determinação e na organização da
personalidade, por meio do padrão cultural de crenças e valores, são os
principais atores que devem ser privilegiados em uma proposta de prevenção
contra o consumo de drogas. Ações e atitudes tomadas nessa fase são importantes
para a formação de um adulto consciente, responsável e bem informado a respeito
das drogas e suas consequências, para evitar o envolvimento com o mundo das
drogas.(BRUSAMARELLO, et al,2008)
O álcool, por ser considerado uma das drogas
lícitas e de fácil acesso, é normalmente o mais usado pelos adolescentes, porém
é uma porta aberta para outros tipos de consumos, no qual, três dos
entrevistados fazem uso de drogas como maconha e pó de cocaína. A maconha foi a
droga ilícita prevalente na primeira experimentação entre os adolescentes
entrevistados, podendo ser confirmados nos relatos a seguir:
"Sabemos
que aqui na comunidade tem bastante droga, o pessoal usa, só que eu mesmo só
uso o “narguile”, maconha de vez quando eu uso, porque dá uma sensação de paz,
aquela tontura...."(Whisky)
"Como
eu sou MC também preciso mostrar para meus fãs que eu tenho disposição, que
estamos sempre juntos independente de qualquer “fita” e sempre andar no
“estilo” com as bebidas “monstra”; um saquinho de “back” pra mostrar que nós
somos patrão e aonde nós chegamos roubamos a cena."(Vodka)
"Quando
eu tinha 14 anos comecei a experimentar outras drogas como maconha e a cheirar
pó, no inicio foi só uma forma pra eu fugir dos problemas, mas depois virou
rotina e curtição... (Corote)..."
O uso de maconha entre adolescentes vem
aumentando significativamente nos últimos anos. Hoje a cannabis pode ser
considerada uma droga leve perante a sociedade, em relação a outras drogas,
inclusive está presente na rotina de muitos adolescentes.
Como consequência o
uso continuo da droga produz diversos efeitos no organismo e pode variar de
acordo com as características do usuário causando:euforia, disforia, sedação, alteração da percepção do tempo,
aumento da interferência na atenção seletiva e no tempo de reação, alteração
nas funções sensoriais, prejuízo do controle motor, do aprendizado e prejuízo
transitório na memória de curto prazo. Efeitos físicos como boca seca, taquicardia e hipotensão postural.Efeitos
psicológicos incluem crises de ansiedade e ataques de pânico (CRIPPA et
al,2004).
A gestação na
adolescência também tem se tornado importante problema de saúde pública (COSTA
et al,2010). Em decorrência do consumo de bebidas alcoólicas faz
com que o adolescente seja exposto a diversas situações de risco, manifestando-a muitas
vezes através de práticas sexuais desprotegidas, podendo se tornar um problema
devido à falta de informação, de comunicação entre os familiares, tabus ou
mesmo pelo fato de ter medo de assumi-la.(CAMARGO;FERRARI, 2009).
A vida sexual ativa
dos adolescentes é uma realidade notória, que exige sensibilização e orientação
dos jovens para a prática do sexo seguro, objetivando a prevenção de diversos
tipos de patologias de transmissão sexual e da gravidez não planejada. Nas
últimas décadas, observa-se que no Brasil, o fenômeno da gravidez na
adolescência tem sido abordado por diferentes segmentos da sociedade, de forma
mais intensa e abrangente. (SILVA, 2013)
Em decorrência da
gravidez não planejada muita das vezes o pai adolescente ausenta-se do processo de gestação e paternidade por
medo, pressão ou exclusão. O fato de não estar preparado e a não maturidade,
faz com que o adolescente fuja das responsabilidades, e quem assume os cuidados
junto com a gestante é a própria família. (GOMES, 2006).
A figura a seguir representa a estrutura esquematicamente a
história oral de vida de adolescente que evidencia as causas e condições que
levaram os adolescentes ao consumo de bebidas alcoólicas.
FIGURA 1: Esquema representativo da história oral de vida de
adolescente que evidencia as causas e condições que levaram os adolescentes ao
consumo de bebidas alcoólicas.
DESCRIÇÃO DO MAPA CONCEITUAL
A figura foi
concebida levando-se em conta simbolos significativos para os jovens, e
especificamente para os jovens da colônia onde deu-se a pesquisa. Buscou-se
traduzir os simbolos em relação ao movimento desvendado sobre o inicio do
consumo de bebida alcóolica descrito pelos colaboradores.
Diamante: tem relação
com problemas parentais, porque é a base do cordão, tem peso maior, envolve a
questão de valores, símbolo do coração, sentimento. E no estudo são visíveis os
problemas parentais, desestrutura familiar, equívocos no sistema de valores e
crenças.
Corrente: é a
sustentação dessa base, então o adolescente carrega no pescoço, devido a
influência de amigos para consumir a bebida alcoólica, e a coragem significa
carregar consigo os enfrentamentos da vida que ele vive, uma forma dele ter
força para seguir em frente.
Boné: tem a
necessidade de pertencer a um grupo, por isso ele utiliza o boné, envolve
também a questão da consciência, a marca do grupo (representação), e dentro do
boné foram apontados outros itens como:
Folha da maconha:
nessa fase o adolescente tem a curiosidade em experimentar as drogas, então ele
se envolve junto com o grupo.
A palavra Ostentação:
significa prazer, que para os adolescentes é uma forma de mostrar que eles tem
poder, eu mando, eu posso, eu tenho, eu
sou patrão!.
E a cerveja: foi
relacionado como fuga dos problemas, porque eles consomem o álcool para fugir
das suas responsabilidades, dos conflitos da vida cotidiana e para reafirmar
suas posições e entendimentos de mundo.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio desse estudo foi possível constatar o quanto a influência no
âmbito familiar e grupo de amigos repercute na vida dos adolescentes para o
contato precoce
de bebidas alcoólicas, mediante as entrevistas evidencia-se que há a necessidade de um trabalho de
intervenção da Enfermagem comunitária em favor dos adolescentes.
Os
colaboradores desse estudo se encontram em situação de vulnerabilidade social
decorrente de conflitos conjugais, desestrutura familiar, carência dos pais,
separação, falta de acesso a educação, devido à ausência de escolas próximas a
comunidade, falta de lazer, cultura. O fator sócio econômico que leva em conta,
também a questão de sobrevivência, desemprego, pobreza e fome que se apresentam
como justificativas de atos infracionais cometidos com vistas à suprir desejos
e necessidades.
A adolescência é uma fase na vida marcada por conflitos e
questionamentos, que faz com que os adolescentes busquem soluções momentâneas
para seus problemas por meio do consumo de bebidas alcoólicas e drogas.
Hoje em dia a família não exerce o papel de educar como antigamente,
transmitir experiências e valores para seus filhos de modo a construir uma
ética de comportamento virtuoso. O trabalho consome todo o tempo dos pais, e
assim eles perdem a autoridade com os adolescentes, jogando a responsabilidade
da educação para a escola, que muitas vezes além do papel de ensinar, necessita
empenhar o papel de educar, todavia, viu-se neste estudo que os jovens não
permanecem na escola, interrompendo os estudos antes de concluir o ensino
médio, logo, se a escola poderia significar um meio para o aprimoramento
pessoal e cidadania e fonte de conhecimentos contributivos para uma melhor
formação da pessoa humana, o abandono dos estudos aborta mais essa
possibilidade de transformação social e humana,
É importante que o enfermeiro tenha conhecimento sobre o território que
ele vai atuar, pois o mesmo tem um papel fundamental frente às ações
preventivas para este público, por meio de educação em saúde reforçando sobre
os riscos do uso/abuso de bebidas alcoólicas. O profissional junto com a equipe
tem que ter um preparo, para atuarem juntos com a clientela e as ações de promoção
da saúde devem ser direcionadas à família, já que esta exerce importante
influência no comportamento do indivíduo nessa fase da adolescência, servindo
como modelo.
O principal desafio na implementação das
políticas públicas é trazer os adolescentes para as unidades de saúde, fazer
com que eles tenham o contato com a equipe, e assim disponibilizar os serviços
de apoio, e acesso a informação. Sendo assim será que o enfermeiro não pode ir
em busca desses adolescentes que estão nas comunidades?
Para que seja eficaz o acolhimento desse
público alvo na unidade, o enfermeiro pode criar um espaço, com reuniões
periódicas, exibição de filmes educativos, exposição de teatros, oficinas,
músicas e abordar temas relativos para a faixa etária. Além de ressaltar sobre
os riscos do consumo de álcool é importante a orientação sexual, sobre as
medidas preventivas de DST (Doenças Sexualmente Transmissível) e uso de
contraceptivos para evitar gravidez não planejada.
Como forma de prevenção primária é necessária
a participação da escola, da família, e da comunidade na vida desses
adolescentes. Na secundária os profissionais de saúde, vinculada a Estratégia
Saúde da Família, devem ser capacitados para realizar intervenções breves no
atendimento aos adolescentes de risco, e se necessário aplicar o instrumento de
triagem para uso abusivo de álcool AUDIT.
Na prevenção terciária, o gestor de saúde
deve fazer encaminhamentos para Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), para o
atendimento aos dependentes, e referenciar a um Hospital Psiquiátrico para
internações de casos graves e na fase de reabilitação, encaminhar os pacientes
tratados para Alcoólicos Anônimos (AA), como forma de ajuda-los a se reinserir
no mercado de trabalho.
No entanto, finalizo esse estudo adquirindo
experiências, levando como aprendizado saber ouvir o próximo, pois a
comunicação é fundamental para compreender o que acontece na vida desses
jovens. Cada um faz sua trajetória de acordo com os valores que a família lhe
oferece, e, no entanto a estrutura familiar é a base de tudo e com os
ensinamentos, cultura, é possível alcançar os objetivos, podendo ter uma
melhoria na qualidade de vida.
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8- GLOSSÁRIO
[1]
Suave- encontrar-se tranquilo, sem estresse.
[2]
Parças- amigo, companheiro de todas
as horas, parceiro.
[3]
Brisa- sensação de viagem quando faz uso de drogas.
[4]
Zé porvinho- pessoa curiosa, que adora fofoca.
[5]
Quebrada- vizinhanças localizadas em periferias urbanas.
[6]
Vermes- policial militar .
[7]
Chavoso- chique, fashion ou na moda
para um certo tipo de pessoa.
[8]
Corre- resolver algum problema,
buscar drogas.
[9]
Nave- da hora.
[10]
Fita- Alguma situação ou
acontecimento.
[11]
Monstra- da hora, legal.
[12]
Back- cigarro de maconha,
baseado.