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sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O USO DO MÉTODO DA APRENDIZAGEM JIGSAW ADAPTADO AO ENSINO DA DISCIPLINA DE BASES BIOLÓGICAS ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS NO CURSO DE ENFERMAGEM DAS FACULDADES OSWALDO CRUZ-SP-2017

Revista Aretê Saúde Humana,  Ano 5, Vol.5, Out/Nov/Dez 2017,Série 15/12, p.23
O USO DO MÉTODO DA APRENDIZAGEM JIGSAW ADAPTADO AO ENSINO DA DISCIPLINA DE BASES BIOLÓGICAS ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS  NO CURSO DE ENFERMAGEM DAS  FACULDADES OSWALDO CRUZ-SP-2017 

*Eric Boragan Gugliano 

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  Gugliano ,E.B. Aretê Saúde Humana [Blog].  O uso do método da aprendizagem Jigsaw adaptado ao ensino da disciplina de Bases Biológicas  Estruturais e Funcionais no curso de Enfermagem. Curso de Graduação em Enfermagem- Faculdade de Enfermagem Oswaldo Cruz (FEOC). 2017 São Paulo, Set. 2017. 
Disponível em:  https://aretesaudehumana.blogspot.com/2017/12/o-uso-do-metodo-da-aprendizagem-jigsaw.html

* Prof. Ms Disciplina Bases Biológicas Estruturais e Funcionais -FEOC (Faculdade de Enfermagem Oswaldo Cruz) - eric.gugliano@gmail.com
           RESUMO

            A aprendizagem significativa depende do conhecimento prévio do aluno sobre o assunto e a relação que ele faz com o novo aprendizado. O relacionamento do aluno com outros indivíduos envolvidos no processo também contribui consideravelmente na compreensão e retenção dos novos conteúdos. O método Jigsaw (quebra-cabeças) é um método cooperativo desenvolvido nos anos 70, sendo a característica principal sua natureza social o que permite uma melhor interação entre os estudantes. O objetivo desse trabalho foi a aplicação da metodologia do aprendizado Jigsaw em conceitos iniciais na disciplina de Bases Biológicas Estruturais e Funcionais em alunos do primeiro ano da Faculdade de Enfermagem Oswaldo Cruz (FEOC), além da promoção da interação entre os alunos. A metodologia foi adaptada em três semanas (N =28). Na primeira semana  foram formados  quatro grupos com sete alunos e para cada aluno do grupo foi destinado um link de acesso com um tema diferente do restante do grupo. Na segunda semana os alunos foram separados de seu grupo de origem por especialidades (GRUPO ESPECIALISTAS) e tiveram o tempo de uma aula para discutirem o conteúdo e aperfeiçoarem o aprendizado.  Na segunda aula, cada aluno voltou ao seu grupo  original e expôs o conteúdo aprendido aos demais (GRUPO DE BASE). Na terceira semana foi realizada uma avaliação (sem comunicação prévia) sobre o conteúdo estudado, abordando principalmente quatro conceitos: célula bacteriana e flora normal; diferenças de tempo de regeneração das células dependendo do órgão; manipulação de células em laboratório; o que são células tronco. Foram descartadas duas avaliações por utilizarem pesquisa externa. A avaliação dos principais conceitos apresentou retenção de aprendizagem( N=26) acima de 70% .O método Jigsaw obteve bastante receptividade entre os alunos e demonstrou ser eficiente na retenção de aprendizagem e promoção da interação entre os alunos.


1-INTRODUÇÃO

  O processo de aprendizagem acontece a partir da aquisição de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes através do estudo, do ensino ou da experiência.  O professor deve criar situações de aprendizagem em que o aluno participe ativamente desse processo, ainda que a fonte desse conhecimento possa estar tanto no exterior (meio físico, social) como no seu interior (Piletti, 2011 apud  Tabile, 2017).

  A aprendizagem significativa depende do conhecimento prévio do aluno sobre o assunto e a relação que ele faz com o novo aprendizado e o relacionamento do aluno com outros indivíduos envolvidos no processo (Aprendizagem Cooperativa)  contribui consideravelmente na compreensão e retenção dos novos conteúdos.


  Uma das características da Aprendizagem Cooperativa é a sua natureza social, pois os estudantes interagem e compartilham suas ideias, melhorando sua compreensão individual e mútua. A aprendizagem ocorre em seu meio particular, no qual se desenvolvem habilidades intelectuais e interpessoais e se estabelecem relações sociais (Fatareli, et al, 2010).


  As situações de aprendizagem cooperativa acontecem em agrupamentos de estudantes, que ficam em posição privilegiada para vivências cognitivas, psicológicas e sociais, aprendendo a “evoluir”  numa contextura entusiasmante ( Bertrand, 2001  apud  De Sá, 2015).


   Os Estudos da Aprendizagem Cooperativa começaram nos anos 70 e obedecem cinco princípios básicos: 1)- A interdependência positiva, onde os alunos envolvidos saibam que o sucesso depende de todos os envolvidos. 2)- Responsabilidade Individual: uma vez que cada participante deve se esforçar, deve contribuir ativamente na discussão. 3)- Competências Cooperativas, que envolve a habilidade de compreender o tema e encontrar uma maneira didática de transmiti-lo aos demais. 4)- Competências de Interação- Envolvem o uso adequado das habilidades interpessoais.  5)- Interação face a face - que coordena os esforços para atingir o mesmo objetivo (Leite, et al 2013)


   Vários autores, portanto, admitem que a  metodologia  cooperativa é uma metodologia estimulante, ativa e aberta e que nenhuma equipe sai vencedora e  que podem ser aplicadas em vários níveis de escolaridade e que os próprios professores  podem inventar alguma dessas práticas (De Sá, 2015).


FIGURA 1- Conceito Genérico de Aprendizagem Cooperativa- (De Sá, 2015)

   O método Jigsaw (quebra-cabeças) é um método cooperativo desenvolvido em 1978 por Aronson e cols., sendo a característica principal sua natureza social o que permite uma melhor interação entre os estudantes. Nesse método, em uma primeira fase, os alunos são distribuídos em grupos de base e um determinado tópico é discutido por todos de cada grupo. O tópico é subdividido em tantos subtópicos quantos os membros do grupo. Numa segunda fase, cada aluno estuda e discute com os membros dos outros grupos a quem foi distribuído o mesmo subtópico, formando assim um grupo de especialistas. Posteriormente, cada um volta ao grupo de base e apresenta o que aprendeu sobre o seu subtópico aos seus colegas, de maneira que fiquem reunidos os conhecimentos indispensáveis para a compreensão do tópico em questão. Cada estudante precisa aprender a matéria para ‘si próprio’ e também explicar aos seus colegas, de forma clara, o que aprendeu (Cochito, 2004 Apud Fatarelli et al, 2010 )

2-OBJETIVOS

  O objetivo desse trabalho foi a aplicação da metodologia do aprendizado Jigsaw adaptado em conceitos iniciais na disciplina de Bases Biológicas Estruturais e Funcionais no início do ano letivo em 2017  em alunos do primeiro ano da Faculdade de Enfermagem Oswaldo Cruz (FEOC), além da socialização entre os alunos nas primeiras semanas das aulas.


2-PROCEDIMENTO

  Conceitos iniciais trabalhados no projeto:
Uso da biotecnologia na saúde atual e sua história.
Uso de células tronco na saúde.
Conceitos de  mitose e a relação com a regeneração de tipos diferentes de tecidos morfológicos.
Exemplos de especialização celular.
Curiosidades

   Semana 1- No final da aula foi dada a orientação para a divisão dos grupos em 07 alunos por grupo e foram entregues para cada aluno de cada grupo o link que deveria acessar e ler para a próxima semana.. Não foi dada nenhuma orientação nesse momento sobre os procedimentos das semanas seguintes.
N= 28  -  Divisão em 04 grupos com 07 alunos cada.

  Semana 2 (Aula 1)- Formação do Grupo de Especialistas-  Os grupos foram formados por temas durante a primeira  aula para discutirem o que aprenderam.  Foi escolhido o espaço aberto do pátio do prédio 3 com o objetivo de sair do espaço fechado da sala de aula..


  Semana 2- (Aula 2)- Retorno ao grupo Base - Os alunos especialistas voltaram para seu grupo de origem e explicaram o que aprenderam ao restante do grupo. Coube ao professor apenas passar pelos grupos e observar, falando apenas quando questionado.


  Semana 3
(Avaliação para coleta de retenção de aprendizagem) - Foi aplicada avaliação para observação na retenção da aprendizagem e duas avaliações foram descartadas porque houve consulta de fontes  durante o processo avaliativo. Essa avaliação não foi avisada previamente e não tinha critérios de somatória de nota.

 FIGURA 2- Etapas da Procedimento. O autor. São Paulo. 2017


 FIGURA 2- Distribuição dos alunos nos grupos ( Fatarelli et al, 2010 )
  

A)- SEMANA 1- FORMAÇÃO DO GRUPO DE BASE:


  Abaixo, as perguntas e os links que foram distribuídos para cada aluno de cada grupo.


1-Quanto tempo o corpo humano leva para se regenerar?



Fonte: Uol Notícias Ciências e Saúde
Disponível em:

https://noticias.uol.com.br/ciencia/infograficos/2013/05/31/regeneracao-do-corpo-humano.htm.    Acesso em Nov.2017




2-Você sabia que as células do seu corpo não são humanas?





3-Fábrica de Órgãos



Fonte: Superinteressante
Disponível em: 

http://super.abril.com.br/ciencia/fabrica-orgaos-444053.shtml   Acesso em Nov.2017




4-HELAS


Fonte: Superinteressante
Disponível em: 

http://super.abril.com.br/ciencia/helas-celulas-dominaram-mundo-626282.shtml  Acesso em NOv.2017




5-O milagre da multiplicação dos neurônios




6-Vire um diamante.



Fonte: Superinteressante

Disponível em: 




7-Células tronco já são cura para mais de 45 doenças.



Fonte: Renorbio

Disponível em: 
http://www.renorbio.org.br/portal/noticias/celulas-tronco-ja-sao-cura-para-mais-de-45-de-doencas.htm  Acesso em Nov.2017 





B)- SEMANA 2- USO DO ESPAÇO FORA DA SALA DE AULA PARA OS GRUPOS ESPECIALISTAS E RETORNO AO GRUPO DE BASE.





C)-SEMANA 3- AVALIAÇÃO

Foram realizadas 04 perguntas em forma de avaliação individual e sem consulta:
N=26

Ø1- Quanto tempo o corpo demora para se regenerar?
Ø2- Por que a maioria das células não são humanas?
Ø3- É possível cultivar células em laboratório?
Ø4- O que são células tronco e quais terapias podem ser utilizadas?


3)-RESULTADOS

3-A) FREQUÊNCIA TOTAL DE ACERTOS

Tabela 1: Número de alunos por  frequência de assertividade em todas as questões São Paulo 2017.


3-B) - DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE ALUNOS POR PORCENTAGEM DE ASSERTIVIDADE

Gráfico 1: Número de alunos por porcentagem de assertividade em todas as questões. São Paulo



3-C)- FREQUÊNCIA DE ASSERTIVIDADE POR HABILIDADES.








 4-DISCUSSÃO

  A estratégia Jigsaw demonstrou a retenção do conhecimento em torno de 70% da sala em relação ao conhecimento inicial da disciplina de Bases Biológicas Estruturais e Funcionais. Foram realizadas apenas 04 perguntas e avaliadas as habilidades que foram classificadas por letras (A,B,C,D,E,F,G,H,I,J,K,L,M,N) e descritas nas tabelas acima.  Na questão 1 (Quanto tempo o corpo demora para regenerar) a habilidade A (Diferenças de tempo entre os órgãos) é quando o aluno explicou que há diferenças entre regeneração dependendo do tipo de tecido. Na habilidade B (Exemplos de òrgãos) o aluno lembrou do tempo de regeneração e soube citar exemplos. Portanto, cada letra nas questões seguintes (2,3,4)  representam também uma habilidade a ser avaliada,assim como o  ítem avaliativo que incluiu conceito errado ou mesmo não lembrou. 

  O Professor passou pelos grupos e manteve a postura apenas de observação, mantendo muito cuidado para não se tornar figura ativa no processo da discussão dos grupos. Esse cuidado deve ser tomado  pois tanto o professor como o aluno estão viciados na relação do aprendizado onde o professor se torna o instrumento ativo do processo. Foi possível avaliar as experiências prévias trazidas por alguns alunos do ensino médio tanto para  a facilidade como para a  dificuldade de comunicação.

  As principais habilidades estudadas  (A,E,H,K) tiveram retenção em torno de aprendizagem acima de 70% dos alunos:
Habilidade A- O aluno soube conceituar sobre o processo de divisão celular e diferenciar o tempo de regeneração  entre os órgãos (acerto de 77% da sala).
Habilidade E- O aluno soube identificar que o organismo humano apresenta muito mais células bacterianas presentes, participando da Microbiota Humana (acerto de 73% da sala)
Habilidade H-  O aluno lembrou da história da manipulação da célula de Henrietta Lacks (Hella) que marcou o avanço da biotecnologia desde 1951 (acerto de 100%).
Habilidade K- O aluno soube explicar o que são células tronco (acerto de 76%).


  Houve uma queda na retenção da  aprendizagem ao citar exemplos, mas mesmo assim ficou em torno de 50% da sala: Habilidade B-Exemplos de Órgãos(46%); Habilidade I - Exemplos de cultura de células (57%) e Habilidade L - Exemplos de Terapias com Células Tronco (60%).

  A aprendizagem significativa depende do conhecimento prévio do aluno e da interação social.e o uso de metodologias ativas fora da sala da aula são instrumentos motivacionais. A Estratégia Jigsaw demonstrou a retenção da aprendizagem acima de 70% da sala nas principais habilidades e uma frequência de retenção geral (tabela 1) de 0,81, cumprindo com os objetivos na retenção da aprendizagem  inicial  da disciplina,  na interação entre os alunos ingressantes na Faculdade e na observação das experiências trazidas pelos alunos do Ensino Médio.

  O método Jigsaw obteve bastante receptividade entre os alunos e demonstrou ser eficiente na retenção de aprendizagem e promoção da interação entre os alunos.


REFERÊNCIAS

DE SÁ, D.M.B. Aprendizagem Cooperativa - Aplicação dos métodos Jigsaw e Graffiti Cooperativo com alunos do 5º ano de escolaridade.  Dissertação apresentada à Escola Superior de Educação de Bragança para obtenção do grau de Mestre em Ensino das Ciências.Instituto Politécnico de Bragança. Bragança- SP 2015. 
Disponível em:<https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/11753/1/Dora%2C%20disserta%C3%A7%C3%A3o.pdf> Acesso em 20/11/2017

FATARELI,E.F.; FERREIRA, L. N. de A.; FERREIRA, J. Q.; QUEIROZ, S. L.;  Método Cooperativo de Aprendizagem Jigsaw no Ensino de Cinética Química. Disponível em: <http://webeduc.mec.gov.br/portaldoprofessor/quimica/sbq/QNEsc32_3/05-RSA-7309_novo.pdf> Acesso em 01/01/2017

LEITE,I.S; LOUREN,A.B; LICIO,J.G.; HERNANDES, A.C. Uso do método cooperativo de aprendizagem Jigsaw adaptado ao ensino de nanociência e nanotecnologia. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 35, n. 4, 4504 (2013) Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/rbef/v35n4/a15v35n4.pdf> Acesso em 15/11/2017

TABILE, A.F; JACOMETO, M.C.D. Fatores influenciadores no processo de aprendizagem: um estudo de caso.  Rev. psicopedag. vol.34 no.103 São Paulo  2017. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862017000100008>